Mesmo devendo R$ 2,9 bi ao SUS, empresas da saúde privada continuam em expansão
A Agência Nacional de Saúde Suplementar divulgou neste mês um relatório que aponta que as empresas de saúde privada devem mais de R$ 2,9 bilhões ao SUS. O valor seria suficiente para pagar 58 milhões de doses de vacina da Covid-19. Apesar disso, as empresas que figuram no topo da lista das devedoras continuam em significativa expansão e lucratividade.
Um dos exemplos é o Grupo NotreDame Intermédica (GNDI) de São Paulo, que negociou esse mês a compra do Centro Clínico Gaúcho, que atende mais de 8 mil pessoas na Grande Florianópolis. Somente os dividendos dessa empresa e da HapVida representam um terço do valor que o SUS tem para receber dessas corporações. O mesmo grupo adquiriu no ano passado o Hospital do Coração em Balneário Camboriú, por um valor estimado de R$ 65,7 milhões.
Para se ter uma ideia da expansão acelerada da GDNI, o grupo iniciou as atividades em Santa Catarina no mês de fevereiro de 2020 e hoje atende 112 mil pessoas em Joinville, Jaraguá do Sul, Blumenau, Itajaí e Balneário Camboriú. Com o investimento na capital esses números crescem ainda mais.
O modus operandi
É significativo que o crescimento das empresas da saúde seja feito às custas do sucateamento da saúde pública. O caso do Grupo NotreDame Intermédica é um entre tantos outros de corporações que conseguem seus lucros por meio da exploração das verbas públicas e das trabalhadoras e trabalhadores que operam o serviço.
Os números assustadores da dívida dessas empresas demonstram o desinteresse proposital dos governos em assumir um compromisso com a saúde pública e ir contra essas grandes corporações. É a prova também de que boa parte de nossos representantes lucram por meio de lobbys com essas empresas.
Consequências para os trabalhadores
O crescimento considerável mesmo durante a pandemia demonstra que os argumentos que essas empresas trazem para as mesas de negociação com os trabalhadores caem por terra ao se revelar os lucros desse mesmo período. A crise não chegou para o setor, muito pelo contrário, essas corporações cresceram em cima das vidas afetadas pelo vírus.
E é também emblemático que sejam essas mesmas empresas que diariamente tem violado direitos trabalhistas básicos de seus funcionários, tais como o pagamento de FGTS e décimo terceiro. Para citar alguns exemplos em nosso estado, a OZZ, responsável pelo serviço do SAMU, vem há anos lucrando com a terceirização, porém deixa de pagar essas verbas básicas a seus funcionários e fornece um serviço sucateado nesse campo tão importante da saúde.